quinta-feira, junho 16, 2005

Apanhei o último comboio da noite...

As luzes azuladas batem contra o plástico metalizado das paredes da carruagem povoado com algumas pessoas banais.
Dentro do meu espaço, da minha carruagem, viajo sozinha...
existe apenas uma senhora de meia idade nos bancos de trás.
Na outra carruagem tenho 3 turistas que agora se levantam para sair no Marquês...
Estas pessoas estão aqui... nada tem em comum comigo...
a não ser o facto de não terem medo. Medo de aqui estar, medo da voz metálica da carruagem, que de tempos em tempos anuncia:
[ PRÓXIMA ESTAÇÃO.... PARQUE ]
Não têm medo de pensar que sozinhas traçam o seu percurso para casa, olham para as mesmas luzes e no fundo vão-se distraindo.. olhando também para si.
Sim, porque esse é o olhar que mais incomoda agora, não é o dos outros, é o nosso.

Estou no último comboio...
da noite...

As estações estão vazias, não há resto de vida aqui, a não ser as luzes amarelas e frias de sempre...
O sono abate-se em mim, e para não adormecer pego no papel e escrevo com uma letra que deixa a desejar, o que sinto no papel.
[teremos medo?]
[mas o que é o medo?]
[medo de quem?]
[do quê?]
[será que toda a gente o tem?]
ou...
a vida continua, apesar dos nossos medos. e com eles aprendemos a lidar com os nossos lados escuros.

Apanhei o último comboio da noite!

15-06-05